Letramento racial é desenvolver a capacidade de perceber, pensar e analisar a sociedade e as relações humanas a partir de uma ótica racializada. É a construção de um senso crítico, um olhar mais acurado, mais cuidadoso, mais generoso para as relações raciais. É perceber situações de racismo e sentir falta de negros em espaços ou postos de poder. É a porta de entrada para a educação antirracista e, consequentemente, para o combate da desigualdade racial. Essas definições são da historiadora e pesquisadora de culturas negras Pâmela Carvalho. Nesta quinta-feira, 21/3, celebra-se o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial.
“Por meio do letramento começamos a entender como a visão eurocentrada atua na sociedade e como podemos modificá-la por meio do conhecimento, avançando sobre as barreiras impostas pela branquitude. O letramento racial traz reflexões que nos levam a avaliar princípios e padrões aprendidos que devem ser modificados”, afirma Márcia Grassiano, responsável pelo Departamento de Promoção da Igualdade Racial (Depir), da Secretaria da Mulher, Pessoa com Deficiência e Igualdade Racial.
O Depir promove grupos reflexivos e oficinas informativas sobre questões étnicas e de igualdade racial durante o ano todo, em escolas, instituições, empresas, organizações, entre outros lugares. O objetivo é levar informação e fomentar o debate. “O Departamento faz uso da palavra em diversos locais que antes não eram acessíveis para que tivéssemos voz ativa para falar que nós, pessoas pretas, que temos sofrido diariamente, com piadinhas que menosprezam nos traços, nossa cor, nossa inteligência”, complementa Márcia.
Um dos pilares da atual gestão do Conselho Municipal Afro (CMA) de Rio Preto é disseminar o letramento racial, por meio de material a ser produzido e de palestras e discussões em escolas, empresas, instituições.
Para a presidente do CMA, Claudionora Elis Tobias, o letramento racial é uma ferramenta fundamental para promover consciência, compreensão e a justiça social no país. “O letramento racial é um processo de reeducação racial que reúne um conjunto de práticas com intuito de desconstruir formas de pensar e agir naturalizadas e normalizadas socialmente em relação a pessoas negras e pessoas brancas. A sociedade precisa entender que o racismo não é um problema dos negros e que deva ser resolvido por negros, mas um problema social.”
Para Márcia, a batalha contra o racismo demanda um comprometimento coletivo, entender essa questão e saber como lidar em situações de discriminação racial ou conflitos raciais são temas relevantes que não são responsabilidade exclusiva dos educadores, mas de todos nós que almejamos um mundo mais igualitário e justo. “É por isso que defendemos que o esforço em promover a consciência racial crítica e a educação antirracista precisa ser constante, pois o ritmo de evolução de cada indivíduo é único.”
O Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em memória ao episódio que ficou conhecido como massacre de Shaperville. No dia 21 de março de 1960, na África do Sul, 20 mil negros protestavam contra uma lei que limitava os lugares por onde podiam circular. A manifestação era pacífica, mas tropas do Exército atiraram contra a multidão. Cerca de 70 pessoas morreram e outras 186 ficaram feridas.
Imagens: Baileys African History Archive/Africa Media Online
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